sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Releitura do Gênesis


Todo mundo sabe da história da criação, contada que está no livro sagrado. Agora, aposto como todo mundo, desde a mais remota antiguidade, sempre se perguntou: “Será que foi daquele jeito mesmo?” Pois eu respondo: “Não foi não, pois eu estava lá”. Querem que eu conte a verdadeira história? Bom, querendo ouvir ou não, eu vou contar.
            Saibam que o Gênesis só é verídico até a narração do quinto dia. O sexto dia nem ia existir – acreditem! – pois Deus, sendo onisciente, não seria tonto de criar o homem. Mas criou sim, só que foi por acaso. Ele, já cansado de tanto criar, adormeceu ali mesmo, perto da máquina que Ele inventou para ajudá-lo naquela criação toda. Só que esqueceu um pouco do barro especial ainda dentro forno. Pois não é que teve um pesadelo (acho que sonhou com a Terra no Século XX) e, assustado, ao acordar, tropeçou na bendita máquina que, acionada assim, se programou de última hora e, sem saber como, cuspiu dois seres esquisitos.
            Bem, um deles já saiu reclamando e falando muito: era o cabelo ressecado, eram as unhas por fazer, era a falta de shopping para umas comprinhas, era... bem, eram tantos os reclames que Deus, do alto de sua paciência, fingiu que continuava a dormir para não dar atenção. Não conseguiu por muito tempo, pois outro serzinho – que já dera o seu jeitinho para pular a primeira cerca que viu – estava de volta já cheio da manguaça (não sei onde encontrou... juro), com uma bola embaixo de um braço e um taco de sinuca no outro. Já viram que, ali mesmo, aconteceu o primeiro arranca-rabo da humanidade.
            Deus, coitado, coçando a cabeça (ainda tinha cabelos), disse: “pronto, acabou o sossego... estava tão bom sem esses dois!” Enfim, apesar dos pesares, aceitou os dois encrenqueiros e, parece, gostou deles, pois, até lhes deu nomes: chamou-os de Eva e Adão.  Porém, devo dizer, antes que acontecesse outra surpresa, quebrou a máquina da criação e foi dormir, pois já começara o sétimo dia.
            Olhem que as confusões só continuaram, pois naquela noite – a primeira dos dois no paraíso – estava muito frio e os dois resolveram ficar juntinhos par aproveitar o calor... acho que nem preciso dizer o que aconteceu. Para encurtar, só sei que fui acordado pela tagarelice – adivinhem de quem – da faladeira: “Onde é que está a mesa com o café da manhã? Nessa pensão de quinta, além de não ter cama nem cobertor, não tem comida também?” Adão, ainda de ressaca, foi bater sua bolinha sem lhe dar ouvidos. Ora, fiquei com pena deles e, gentilmente, pensei em ajudá-los dizendo que tinha bastante frutas naquelas árvores todas, era só procurar. Nem pude abrir a boca, pois aquela curiosa já estava no pomar sagrado
            Pois não é que a bisbilhoteira da Eva escolheu justamente a árvore da desobediência? Pronto, os dois – se achando os donos do pedaço – resolveram fazer uma passeata exigindo roupa (só se fosse de grife) e comida (nada abaixo de caviar). Olha que quando começaram com o jargão “O povo, unido, jamais será vencido” foi a gota d’água. O chefe da polícia local, não gostando de ser incomodado, deu-lhes umas cacetadas e, mesmo sem consultar o Chefe, expulsou-os de lá.
            Deus na verdade não gostou muito disso não, pois deu uma bronca no comandante da polícia e deixou o coitado de castigo na entrada do paraíso, vigiando sempre para não deixar ninguém entrar – ainda deve estar lá até hoje. Só sei que Deus deixou o barco rolar para ver como os dois iam se virar fora do Éden.
            Hum, aposto como os curiosos querem saber quem sou eu! Bem o livro sagrado nem fala de mim, mas eu sou o anjo da guarda daqueles dois trapalhões. Por que o espanto, todos possuem anjo da guarda, não?

1 comentários:

Nayara Gonçalves disse...

Adorei a história.!!!

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